Cientistas publicam carta pressionando Alemanha a devolver Irritator, fóssil de dinossauro contrabandeado do Brasil.

28 de julho de 2023

Após pressão, europeus agora se unem à demanda de pesquisadores brasileiros pela restituição do fóssil, tema de um artigo científico publicado em maio que reconhecia o status ‘possivelmente problemático’ da peça na Alemanha, devido aos indícios de tráfico. MPF apura o caso.

 

 

Pesquisadores brasileiros e europeus vão publicar nesta sexta-feira (28) uma carta conjunta pela restituição ao Brasil do fóssil do dinossauro Irritator challengeri, atualmente na Alemanha —depois de ter sido contrabandeado do Brasil.

O fóssil, considerado o crânio mais completo e preservado dos dinossauros de seu tipo, foi tema de um artigo científico publicado em maio deste ano por cientistas alemães e franceses. Eles fizeram uma nova análise do crânio e chegaram a conclusões inéditas sobre a espécie. Desde 1996, esse fóssil é classificado como um holótipo —peça que serve como base para descrição de uma espécie e, portanto, é de importância ímpar para a ciência.

No estudo deste ano, os pesquisadores europeus reconheciam o “status possivelmente problemático” do fóssil, comprado pelo Museu Estadual de História Natural de Stuttgart de um comerciante de fósseis em 1991. O comerciante, por sua vez, teria importado o fóssil para a Alemanha antes de 1990.

Um dos cientistas que assina a carta é o paleontólogo Serjoscha Evers, orientador do artigo científico sobre o Irritator que fez deflagrar a polêmica.

Em junho, depois de anos de pressão da comunidade paleontológica, o país europeu devolveu outro fóssil brasileiro de importante valor científico, o Ubirajara jubatus, que também havia sido contrabandeado para a Alemanha. O Ubirajara agora integra a coleção do Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens, administrado pela Universidade Regional do Cariri (Urca) na cidade de Santana do Cariri.

Além de Juan Cisneros, da Universidade Federal do Piauí, outra paleontóloga brasileira, Aline Ghilardi, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, está entre os principais articuladores da carta sobre o Irritator. A atuação de ambos foi crucial para a restituição do Ubirajara.

“Apesar da grande visibilidade destes dois casos [Ubirajara e Irritator], o motivo da nossa preocupação é mais amplo. As coleções públicas em Baden-Württemberg guardam milhares de fósseis do Brasil. Isto nos preocupa na medida em que a lei brasileira confere a propriedade dos fósseis à Nação desde 1942, e proíbe a sua exportação permanente desde pelo menos 1990. Esta designação de propriedade e restrição de exportação no mínimo levanta dúvidas sobre o status legal dos fósseis nas coleções públicas de Baden-Würtemberg”, afirma a carta.

 

“Na química, por exemplo, o hidrogênio é igual em qualquer lugar. Na paleontologia não é assim: cada fóssil é um objeto único, que aporta informações diferentes”, explicou Juan Cisneros em entrevista ao g1.

“A gente depende desses objetos únicos para fazer as pesquisas, porque eles são como livros: vamos até eles para fazer consultas. Ter esse fóssil aqui, na Bacia do Araripe, vai contribuir para que as nossas pesquisas avancem mais”, diz ele.