Rogério Campos

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Anísio Teixeira, o revolucionário da educação: O Brasil Cultural desta semana apresenta o primeiro de três episódios sobre a vida e a obra de um verdadeiro estadista da educação.

ARTE EBC

Em 2024, a renda domiciliar per capita no Brasil chegou a R$ 2.020. Além de representar um recorde histórico, a cifra aponta uma alta de 4,7% na comparação com o ano anterior. Os dados são oriundos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) e foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Nesse contexto, se uma família for composta por pai, mãe e dois filhos menores de idade, significa que o orçamento doméstico é de R$ 8.080. Com esse dinheiro, os responsáveis pelas finanças devem suprir todas as necessidades do lar, inclusive a educação das crianças. Caso os pais desejem colocar os filhos em uma escola particular que custe R$ 1.000 por pessoa, o investimento representará quase 25% da renda familiar. E esse custo tende a aumentar a cada série, em uma escalada que só termina no último ano do ensino médio. Para fugir do aperto financeiro, os responsáveis geralmente buscam os aparatos do Estado.

De acordo com o Censo Escolar 2024, cerca de 23% das matrículas na rede pública de educação básica no Brasil foram realizadas em escolas de tempo integral; ou seja, em 77% dos casos, a criança pobre vai estudar em colégios de turno, nos quais permanece de 4 a 5 horas por dia.

Em 2025, os professores da rede pública do Distrito Federal deram início a uma greve que durou 23 dias. Os docentes reivindicavam reajuste salarial, reestruturação da carreira e nomeação de aprovados em concurso público. No ano ainda em curso, Salvador, Belo Horizonte, Rio Grande do Norte, Piauí, Pernambuco e Paraíba também tiveram greves no âmbito da educação básica. Como consequência, crianças e adolescentes ficaram sem aulas.

A realidade geral do povo contrasta com o panorama averiguado no topo da pirâmide socioeconômica. Em São Paulo, a cidade mais rica e populosa do país, há escolas como a Avenues e a Graded que chegam a cobrar mensalidades em torno de R$ 15.000. Esse valor é cerca de 750% maior que a renda per capita do brasileiro. Nesses lugares de exceção econômica, as matrículas beiram os R$ 31 mil. Na mesma metrópole, professores da rede municipal entraram em greve no último mês de maio.

Ainda hoje, quem pode pagar tem acesso às melhores estruturas e aos mais sofisticados métodos de ensino. As elites querem seus filhos poliglotas, versados em literatura, arte e matemática. Reconhecem a importância do conhecimento, das novas tecnologias e do pensamento abstrato.

Mas, e o povão? Quem olhou para as massas que atravessaram o século XX famélicas e iletradas?

Em 1900, nasceu, em Caetité, no sertão da Bahia, um homem chamado Anísio Teixeira, que viu de perto o Brasil ulcerado pelas heranças da escravidão, ignorado pela República do Café com Leite e de mãos dadas com o fascismo nos primeiros anos da Era Vargas. Nesse tempo, quem se preocupava com o menor abandonado, dava importância à alfabetização, valorizava os professores e lutava pela construção de educandários com estruturas de primeiro mundo?

Anísio pensava em todas essas questões. E as extrapolava com sua vocação de estadista. Não se furtava em dizer que a escola pública é a única máquina capaz de gerar e sustentar as verdadeiras democracias. No parecer dele, essas instituições deveriam ser gratuitas, universais e laicas. O interesse maior da pátria. É importante grifar: tem-se aí uma visão de povo. O pedagogo não perdeu tempo com esgrimas teóricas que alimentam a vaidade dos acadêmicos. Anísio se entregou à construção, aos fazimentos e, por isso, colocou as mãos operosas a serviço do brilhantismo intelectual.

Na década de 40, o Censo Demográfico apontou que aproximadamente 62% da população brasileira com 10 anos ou mais era analfabeta. Em 1950, o educador fundou a Escola Parque em Salvador. Surgia uma nova proposta pedagógica que, se dependesse apenas do mestre, teria se espalhado por todos os estados da federação. A conquista, levada a sério, daria condições ao país de figurar na lista dos melhores sistemas de ensino do mundo, hoje localizados em países orientais, como Singapura, e nórdicos, com destaque para a Finlândia.

Não por acaso, o Brasil Cultural apresenta Anísio Teixeira, o revolucionário da educação. Este é o primeiro de três episódios

 

Fonte: radiogov/Ricardo Walter