Na manhã dessa quarta-feira (30), a Prefeitura de Salvador apresentou o cronograma das atividades da Campanha Maio Laranja 2025, que neste ano celebra os 25 anos do 18 de Maio – Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. A iniciativa é organizada pela Secretaria Municipal de Políticas para Mulheres, Infância e Juventude (SPMJ), em parceria com diversos órgãos públicos e instituições da sociedade civil, e os detalhes foram divulgados em cerimônia realizada no Auditório Makota Valdina, na sede da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secult), no Comércio.
Com o tema “Crimes Virtuais Sexuais Contra Crianças e Adolescentes: Como Prevenir e Denunciar”, a edição deste ano traz como foco os riscos crescentes enfrentados por crianças e adolescentes no ambiente digital. A campanha chama a atenção para crimes como aliciamento, pornografia infantil, cyberbullying e outras formas de violência sexual on-line.
O evento começou com uma intervenção artística. Duas atrizes fizeram o público refletir sobre o combate ao abuso sexual de crianças e adolescentes. Na plateia, servidores de diversos órgãos de enfrentamento ao problema usaram laços laranjas no peito em alusão à campanha de conscientização. Alguns optaram também por vestir a cor do evento e reforçaram a importância de denunciar os casos através do Disque 100.
Dados da ONU – Ao longo do mês de maio, a iniciativa busca mobilizar a sociedade, capacitar profissionais do Sistema de Garantia de Direitos (SGD) e ampliar os canais de informação e denúncia. A comunicação será pautada por ações educativas, formações, mobilizações culturais, atividades esportivas e iluminação de monumentos da cidade na cor laranja.
Segundo dados recentes da ONU, mais de 300 milhões de crianças foram vítimas de exploração e abuso sexual on-line. O mesmo relatório aponta que cerca de 15% das crianças em todo o mundo já sofreram cyberbullying.
“Todo ano nós já fazemos o Maio Laranja e esse ano, especialmente, nós focamos na proposta de crimes cibernéticos, porque é hoje a maior violação que estamos identificando na área infantojuvenil, quando se trata de exploração de abuso sexual. O estupro virtual, a exposição da imagem, a própria rede criminosa, que atua com a imagem de crianças e adolescentes e suas exposições está muito grande”, declarou a titular da SPMJ, Fernanda Lordêlo.
“A Safernet, conforme dados recentes, sinalizou mais de 71 mil denúncias relacionadas a isso. E de 2022 a 2023 houve um aumento de mais de 71%. Então, hoje nós estamos trazendo essa discussão para além de minisséries, séries, documentários, para que as famílias compreendam a importância e a gravidade de ter os seus filhos expostos nas redes sociais. Então a discussão o mês todo vai focar sobre isso”, completou a gestora.
Campanhas diversas – As ações da campanha vão ocorrer nas escolas, além de campanhas com times de futebol em campo e fora dele, caminhada, pedal e eventos em universidades, dentre outras atividades, para mobilizar a sociedade civil. Em 2025, inclusive, a ação municipal ampliou o grupo de parceiros para, assim, alcançar o maior número de pessoas para o combate ao problema.
“É bom sinalizar que de 2011 até 2023, nós tivemos um aumento de mais de 91% de estupros, sejam eles virtuais ou físicos, além das questões de maus tratos, que são oriundos de pessoas próximas, familiares, amigos. Então é muito importante que os pais estejam atentos a qualquer sinal do seu filho, seja a automutilação, seja o desinteresse por outras pessoas, o afastamento, isolamento, características de tristeza profunda que podem ser oriundas de depressão. Todas essas características precisam ser observadas com muito cuidado para a gente compreender o que está acontecendo e buscar ajuda”, finalizou Fernanda.
Rede de proteção – O secretário de Inovação e Tecnologia (Semit), Alberto Braga, afirmou que, em 2025, a pasta dará todo o apoio para chamar a atenção para essa iniciativa. “Hoje a gente vive um mundo conectado, um mundo com a transformação digital muito grande. A criançada hoje já está com o seu tablet na mão, e isso é um caminho sem volta, então é mais importante ainda que a gente redobre as nossas atenções, fiscalizando sempre nossas crianças, adolescentes, as mulheres, os conteúdos inapropriados sejam bloqueados. Então esse é um trabalho que a gente vai estar junto com a SPMJ, dando esse suporte”, reforçou Braga.
A defensora pública do Núcleo da Infância e Juventude, Mariana Tourinho, destacou a parceria da SPMJ com a DPE-BA. “Para a Defensoria Pública, é muito importante participar da campanha, pois somos uma instituição de acesso à justiça, sobretudo para aquelas pessoas que se encontram em situação de vulnerabilidade socioeconômica. E nós sabemos, infelizmente, que as maiores vítimas de abuso, exploração sexual infantil e juvenil são crianças e adolescentes de baixa renda. Nós desenvolvemos uma campanha não só de prevenção, mas também quando ocorrem essas eventualidades do abuso e da exploração, a defensoria também acompanha e acolhe essas crianças que são vítimas”, explicou.
Inimigo sem rosto – Padrinho da campanha, o cantor Ricardo Chaves declarou estar honrado com o convite e ressaltou a importância da iniciativa. “Antigamente a gente falava muito de violência infantil e as estatísticas ainda provam que essa violência está ligada às pessoas muito próximas às vítimas, seja dentro de casa, parentes, amigos. Hoje, existe um perigo que acrescenta uma seriedade muito maior a isso, que é a ausência do rosto. Estamos juntos nessa campanha e vamos lutar para que a gente possa dizer que isso definitivamente acabou”, disse o cantor.
Denúncias – A campanha também reforça os principais canais para denúncias de violência sexual contra crianças e adolescentes: Disque 100, Conselhos Tutelares, delegacias especializadas e pela plataforma www.safernet.org.br.
Por: Cláudio Leite-Galego