Paulo Marcos

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Mesmo com proibição, maioria dos estudantes do Ensino Médio segue levando celular para a escola e admite uso em sala de aula

Foto: Reprodução/TV Globo

Uma pesquisa da iniciativa Equidade.info em parceria com a Frente Parlamentar da Educação apontou que 63% dos estudantes do Ensino Médio ainda levam o aparelho celular para a escola todos os dias, apesar da entrada em vigor da lei que proíbe seu uso em instituições de ensino.

Entre os que levam o celular para a escola, mais da metade dizem que acessam o celular durante a aula (54%).

A lei que entrou em vigor em janeiro só permite o uso de aparelhos eletrônicos em sala de aula para fins didáticos ou pedagógicos, e a partir de orientação de profissionais da educação.

Mesmo pátios e refeitórios estão proibidos, porque o uso não é permitido nem durante os intervalos ou recreio.

As exceções são para a inclusão de estudantes com necessidades específicas ou em situações excepcionais de perigo, estado de necessidade ou em caso de força maior.

Entre estudantes do Ensino Fundamental 2 e Ensino Médio, 51% dos estudantes disseram que não levam mais o celular para a escola.

A pesquisa foi feita pela iniciativa que não tem fins lucrativos e coleta dados sobre a educação básica.

As entrevistas foram feitas entre fevereiro e março deste ano, em todos os estados brasileiros e no Distrito Federal, com 1.057 mil alunos e 257 professores em 146 escolas. O índice de confiança da pesquisa é de 95%.

As entrevistas foram feitas em escolas públicas e privadas, urbanas e rurais, de todas as etapas de ensino. Apenas unidades de ensino prisionais e socioeducativas ficaram de fora do levantamento, onde celulares já não eram permitidos.

Apoio dos professores

As entrevistas com professores também mostram amplo apoio dos docentes para a medida: 40% dos professores são totalmente contra o uso de celulares nas escolas e apenas 7% são totalmente a favor.

Já o índice entre os alunos é o oposto: 18% são totalmente contrários e 30% totalmente favoráveis.

Os alunos dizem que o principal motivo para levarem o aparelho para a escola é a comunicação com a família (75%), mas a utilização de aplicativos de mensagem também tem grande destaque, 53% dos estudantes dizem que utilizam o aparelho para esse fim na escola.

As redes sociais também são apontadas como um motivo para o uso na escola por 45% dos estudantes, seguido de aplicativos de música (43%).

A pesquisa aponta que ainda é um desafio disponibilizar um local onde os aparelhos possam ficar longe do alcance dos estudantes.

Apenas 4% disseram guardam em um armário e 2% em uma caixa na entrada da escola. Segundo a pesquisa, 63% dos estudantes guardam o celular na mochila ou nos bolsos (59%).

Dificuldade em reduzir a tela

Ficar longe do celular tem se mostrado um desafio grande para a maior parte dos estudantes. O grupo de pesquisa, ainda em dados preliminares, apontou que57% dos estudantes disseram que estão tendo dificuldades para reduzir o tempo de tela.

Os estudantes do Ensino Médio são os que mais sofrem: 60% dizem estar enfrentando dificuldades, enquanto apenas 34% disseram que não. No Ensino Fundamental o índice cai para 54% dizendo que concordam que enfrentam dificuldades contra 38% que dizem que não.

A lei determina que os estabelecimentos de ensino tenham espaços de escuta e de acolhimento para estudantes ou funcionários que estejam em sofrimento psíquico e mental decorrentes principalmente do uso imoderado de telas e de nomofobia, que é o medo de ficar longe do celular.

Não conhecem a regra

Apenas 56% dos estudantes disseram conhecer bem as novas regras com restrição para o uso do celular, enquanto 35% disseram ter pouco conhecimento sobre o novo regramento e 9% disseram não terem conhecimento sobre mudanças na permissão para uso do celular em escolas.

A região Norte é a que concentra a maior proporção de estudantes que dizem não conhecer as novas regras (12%) e a menor taxa dos que dizem conhecer bem o que mudou (47%).

Entre os docentes, a região Norte é a única que teve representantes que dizem desconhecer o novo regramento, ainda que em número baixo (3%). O Sudeste foi a única região em que 100% dos docentes disseram ter pleno conhecimento das mudanças.

A pesquisa aponta que algumas regiões demandam maior investimento na comunicação com os alunos, especialmente por parte dos professores.

A pesquisa destaca a forma como as mudanças foram repassadas dentro da cadeia de ensino. Enquanto a maior parte dos gestores concentrou a responsabilidade de repassar a informação (94%), apenas 67% dos docentes disseram que se encarregaram de fazer algum comunicado sobre as novas regras.

A pesquisa aponta que 91% dos professores disseram ter recebido informações da gestão sobre a mudança, mas que, destes, 27% não repassaram as informações adiante. Isso pode contribuir para que o índice de conhecimento das novas regras pelos alunos seja mais baixo.

Por outro lado, 3% disseram não terem sido informados formalmente por suas gestões sobre a alteração e, ainda assim, comunicaram aos alunos e responsáveis pelas novas regras de uso dos celulares.

Por Paloma Rodrigues, TV Globo — Brasília